No livro, o senhor narra o medo da morte, mesmo lidando com ela várias vezes. Não tem jeito de se acostumar com essa ideia, mesmo?
Lidei com morte na clínica e por violência na cadeia, especialmente no Carandiru. Eu tenho medo da morte violenta, claro, de alguém sacar um revólver contra mim. Mas quando a morte vem de um jeito inexorável, ela traz também um entendimento.
Você se desliga da vida espontaneamente, a doença traz uma resignação. Chega um ponto que o corpo vira uma fonte de sofrimento e você começa a não ter capacidade de reação. Vi isso com meus doentes a vida inteira.
Esse tipo de morte natural acho que a gente não tem como se preocupar. A morte por violência traz desespero. Nunca vi um morto por doença se debater em desespero. Chega a um ponto que reagir é inútil. Sabe, eu sou ateu e não tenho expectativas. Acho que vou morrer e acabou, deixo de existir. Aí me perguntam: a vida é só isso? É só isso, pô. Não tá bom?