Quando eu estou no sistema prisional, atendo uma pessoa e ela diz que nunca viu uma médica assim — e ela é uma pessoa como eu —, me lembro da minha família.
Meu pai e minha mãe são a minha referência para entender o que significa ser uma mulher negra nesse mundo, e qual é o meu papel com as pessoas que são parecidas comigo. A todo momento eles diziam: tu pode ser médica, mas tu não é uma médica negra, tu é uma mulher negra que vai se tornar médica; tu pode ser juíza, mas tu não vai ser uma juíza negra. Tu é uma mulher negra antes de qualquer coisa e isso é que vai te colocar no lugar em que você tem que estar.
Mantenho na minha mesa uma carta que meu pai escreveu à mão em 1966 para minha mãe, quando eles ainda eram namorados, em que ele dizia: "No embalo da luta pelo nosso lar, noto um sentimento mais digno, confidente, para sonhos e juntos lutarmos para tornar fácil [para] aqueles que no futuro serão dignos de nós".
A partir desse lugar que foi preparado para mim, eu posso trazer mais pessoas comigo. Seja na perspectiva de saúde, em uma conversa política, em um momento de solidariedade, seja na escola. Existem várias possibilidades. Amar pessoas pretas é o que me move. Olhar pra ti e entender muito do que tu vive, o que tu sente, o que se apresenta como barreira para ti — porque eu sei exatamente o que significa isso.
Então não dá pra eu me calar, entende?