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O amor que ousa dizer o nome

Trans contam dos benefícios sociais e emocionais que tiveram por conseguir alterar formalmente nomes e gêneros

Natália Eiras da Universa Lucas Seixas/UOL

Caso você não deva nada a ninguém nem seja um foragido da polícia, mostrar sua carteira de identidade quando ela é solicitada não faz suas mãos tremerem ou o coração se agitar. Certo? Infelizmente, não. Pessoas transgêneros --elas são 1% da população mundial --am por diversos e específicos sofrimentos ao longo da vida, especialmente, no Brasil: violência (somos o país que mais mata essa população), preconceito em casa, no trabalho e nas ruas e desemprego são uma parcela ínfima da lista. Mas há sutilezas da vida corriqueira de trans que também desaguam em profundo sofrimento; e uma delas é ter os documentos com o nome e o gênero que elas não reconhecem.

Esse problema foi enormemente suavizado em março de 2018, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a alteração desses registros não precisava mais de autorização judicial, laudo médico ou comprovação de cirurgia de redesignação sexual. Na decisão, a maioria dos ministros invocou o princípio da dignidade humana para assegurar o direito à adequação da identidade autopercebida pelas pessoas trans.

Dois meses depois, a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça publicou uma norma que estabeleceu as regras para que a mudança na certidão de nascimento ou casamento pudesse ser feita nos cartórios de todo o Brasil. Desde então, pessoas maiores de 18 anos podem requerer a alteração de prenome, agnome indicativo de gênero (filho, júnior, neto etc.) e gênero em certidões de nascimento e de casamento; esta, com a autorização do cônjuge.

Antes dessas decisões, o caminho era dificílimo. A pessoa trans primeiro, precisava recorrer à Justiça; segundo, dependia do "entender" dos juízes que, na falta de uma regulamentação, decidiam os processos com base em diferentes critérios. "Alguns entendiam que só podiam retificar nome e gênero os requerentes que tivessem feito a cirurgia no SUS; outros, que sem cirurgia era possível alterar o prenome mas não o gênero", explica a advogada Maria Eduarda Aguiar, primeira mulher transgênero a conseguir colocar seu nome social na carteira da OAB-RJ, e presidente da ONG Grupo Pela Vida, que apoia pessoas com HIV. Eram exigidas, ainda, perícias policiais, laudos psiquiátricos e fotografias.

De acordo com o artigo 16 do Código Civil, toda pessoa tem direito ao nome. De um ano para cá, pessoas trans tiveram esse direito, subjetiva e felizmente duplicado. Acha isso "balbúrdia"? Experimente ser alvo de piada e/ou violência, a vida toda, sempre que falar seu nome.

Lucas Seixas/UOL

Cidadã; não aberração

A publicitária Rafaela Caslow, 32, de São Paulo (SP), decidiu entrar na justiça para retificar seu nome e gênero assim que teve coragem de mexer numa poupança engordada a muito suor, e tirar R$ 6 mil de uma vez só. Na época, 2017, o STF ainda não havia interferido na questão.

Rafaela vivia há quatro anos com a aparência feminina, mas com um nome de homem no RG o dia a dia era torturante. "Os porteiros do meu prédio, por exemplo, que não sabiam que eu era transgênero, não entendiam quando chegavam para mim correspondências com o nome masculino", diz Rafaela.

Ela teve que fazer a retificação no modo antigo, por meio de ação judicial. "Contratei uma advogada que executou todos os trâmites burocráticos. Foram precisos, entre incontáveis documentos, laudos médicos, psiquiátricos e três cartas de pessoas que fizessem parte da minha rotina para atestar que eu sou transgênero", conta a publicitária. O documento ficou pronto seis meses depois.

Ao colocar as mãos no novo RG, ela sentiu "alívio". "Finalmente, não me sentia como uma indigente", desabafa. A pessoa transexual, pela experiência de Rafaela, costuma ser e sentir excluída. "As pessoas olham torto, não fazem questão de te tratar pelo prenome que você quer". E, com o novo RG e certidão de nascimento, ela sente que lhe "deram a dignidade de pertencer à sociedade". "Agora sinto que sou uma cidadã, não uma aberração."

"Imagina se você não gosta de ser chamada de 'magrela', e o tempo todo as pessoas usam esse termo para se referir a você. É assim que uma pessoa transgênero se sente quando a chamam com o nome antigo. É um tipo de bullying, de desrespeito."

Lucas Seixas/UOL Lucas Seixas/UOL

"Não preciso mais dar satisfação, apenas existo"

Rafaela

A escolha de Rafaela

Rafaela sabe que teve sorte. O processo de retificação de seu registro foi muito mais tranquilo do que o de amigos dela. "Eles aram dois, três anos, esperando a decisão."

Maria Eduarda Aguiar, membro da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), conta que, até 2018, para fazer a modificação do nome, era preciso entrar com uma ação, apelando pela jurisprudência do artigo 55 da Lei de Registros Públicos, que diz que "não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores". Mas esse processo não atendia a todas as demandas das pessoas trans: "Ele não era capaz de alterar também o gênero na certidão de nascimento", diz a advogada.

Em sua avaliação, "o Judiciário tratava a pessoa trans como um doente mental, alguém que tivesse um distúrbio". Os vereditos, que poderiam ser negativos, tornavam os esforços do requerente, emocional e financeiro --de até R$ 10 mil -- perdidos.

Para obter as modificações é preciso levar uma lista extensa de documentos até um cartório de registro civil, pagar uma taxa de cerca de R$ 200 e escrever, de próprio punho, uma declaração de que é transgênero.

Preparando a documentação

O processo é relativamente descomplicado, porém ainda enfrenta percalços, como a falta de capacitação dos cartórios. "E também precisamos desburocratizar ainda mais o sistema. A população transgênero é a mais vulnerável do Brasil e o procedimento, caro e trabalhoso", avalia Maria Eduarda.

O requerente pode gastar até R$ 1,5 mil com a emissão dos documentos exigidos. "É preciso que mais pedidos de gratuidade (para as mudanças) sejam aceitos pelo Ministério Público. Caso contrário, a retificação continuará sendo um direito para poucos."

Lucas Seixas/UOL Lucas Seixas/UOL
Lucas Seixas/UOL

"É um direito tão básico. Por que se fala em conquista">

Publicado em 21 de junho de 2019.

Reportagem: Natália Eiras; Edição: Juliana Linhares; Fotos: Lucas Seixas; Edição de imagem: Lucas Lima; Edição de arte: Suellen Lima.