Até que a morte nos separe?
O espanhol Manuel Lucas Matheu, presidente da Sociedade Espanhola de Intervenção em Sexologia, nega que a monogamia tenha se estabelecido como a forma predominante das relações por ser um instinto natural dos seres humanos. "Ela só está presente em 3% dos mamíferos", diz. O sexólogo também cita o atlas etnográfico de Murdoch que, nos anos 60, analisou 238 diferentes sociedades do mundo e constatou que apenas 16% delas eram monogâmicas.
Por que então adotamos o modelo? Segundo o pesquisador, o motivo principal está na economia. "Estudos sociais e biológicos confirmam que a predominância da monogamia na sociedade está associada à escassez de recursos", afirma. Tal como as cegonhas, que não têm tempo de variar os parceiros porque gastam muita energia em seus deslocamentos, decidimos nos juntar em pares porque este seria o modelo de vida menos custoso para a sobrevivência da nossa espécie.
Regina Navarro Lins, psicanalista e escritora, tem uma interpretação semelhante da história. "5 mil anos atrás, não havia a ideia de casal. As pessoas viviam em comunidade e homens e mulheres transavam entre si. O cenário mudou com a percepção de que o homem também participa na procriação. Com isso, surgiu a propriedade privada: 'meu rebanho', 'minha terra'. Assim, a mulher foi aprisionada e teve seus desejos reprimidos. Os homens não queriam correr o risco de deixar suas heranças para os filhos de outros", explica.