Urgência médica na pandemia: "Fiquei internada e lutei contra muitos medos"

Larissa Leiros Baroni, editora do UOL, enfrentou uma situação que quase ninguém gostaria de ar nesses tempos, ela teve uma emergência médica não-relacionada ao coronavírus e teve que ficar internada. Abaixo, segue o relato:
"Em tempos de pandemia de coronavírus, o único lugar que eu não queria estar era em um hospital, mas mesmo sem ter qualquer um dos sintomas da covid-19, uma febre de 38,4º e uma intensa dor no lado inferior direito das costas me obrigaram a ir ao pronto-socorro.
Os primeiros sinais de uma infecção urinária surgiram na minha segunda semana de isolamento, mas como a orientação é procurar o hospital só em casos emergenciais, optei por aumentar a ingestão de água —algo que cotidianamente não faço. Estava certa que melhoraria. Mas não.
Na semana seguinte, comecei a sentir uma dor estranha nas costas, que a princípio relacionei com a falta de postura no home office. Mas mais uma vez estava errada e os remédios contra dor muscular não fizeram efeito algum. A dor só se intensificou, até que chegaram os calafrios e a febre de 38,4º.
Apesar de todos os indícios de uma emergência, ainda tinha muito medo de ir ao hospital e só fiquei mais segura em tomar essa decisão após conversar com um amigo médico que me alertou sobre a possível gravidade da minha situação e me acalmou sobre a segurança dos procedimentos médicos. Já imaginou eu ir tratar de um problema e sair de lá com outro ainda maior?
Era uma quinta-feira, 10h. Cheguei ao Hospital São Luiz, em São Caetano do Sul (SP), com o coração acelerado. A primeira coisa que fiz foi ar álcool em gel nas mãos (gesto que se repetiu toda vez que via um recipiente com álcool em qualquer lugar do hospital).
E, antes mesmo de pegar a senha para o atendimento, fui recebida por três profissionais que logo perguntaram se eu tinha algum sintoma de gripe. Como a resposta foi não, fui conduzida para o lado direito do salão, que estava totalmente vazio. Mas o lado esquerdo, um local mais reservado para atender os casos suspeitos de coronavírus, estava com uma movimentação bem intensa. Não chegava a estar superlotado, mas tinha uma movimentação bem grande.
Conclusão: em menos de duas horas já tinha feitos todos os exames (urina, sangue e ressonância no abdome), já estava medicada e estava frente a frente com a médica para receber meu diagnóstico. A infecção urinária acabou subindo para o rim e, como corria o risco de avançar para outros órgãos do corpo, precisaria ficar internada para receber antibiótico via intravenosa.
Não consegui conter o choro. Até tentei conter, mas as lágrimas foram bem mais fortes do que eu. Até implorei para que a médica apenas me receitasse uma medicação via oral para fazer o tratamento em casa, mas não adiantou. E enquanto ela justificava a importância da internação, além do medo e da angústia no peito, muitas coisas se avam pela minha cabeça.
Como eu conseguiria ficar longe dos meus dois filhos (Eduarda, 6, e Joaquim, 3)? Que momento mais apropriado para ficar internada, não é mesmo? Será que sobreviveria ando uns dias em um lugar apinhado de gente infectado com o coronavírus? Se eu tivesse procurado o médico antes, será que teria me livrado dessa internação? Muitas perguntas, cujas respostas não importavam mais.
Com a internação liberada pelo convênio, subi ao quarto e recebi as orientações sobre a internação. Com a epidemia, não seria permitido que eu tivesse acompanhante, tampouco recebesse visitas. Também fui proibida de sair do quarto. E, todas as vezes que precisei sair para fazer exames, fui obrigada a usar máscara para evitar a contaminação.
Todos os profissionais que entraram no meu quarto também só entravam mascarados. E eles constantemente afirmavam: "A máscara é mais para sua proteção, do que para a nossa".
Eu fiquei no 12° andar, onde também estavam internados pacientes com outros tipos de enfermidades não contagiosas, como uma mulher com um cisto de 8 centímetros, que aria por uma cirurgia, e um outro jovem que estava com uma pedra parada no canal da urina, que entrou na emergência logo depois de mim gritando de dor.