80% dos profissionais de saúde relatam exaustão emocional pela pandemia

Resumo da notícia
- Pesquisa da FGV entrevistou 1.829 profissionais da saúde da linha de frente da covid-19 de todo o Brasil
- A maioria (70%) ainda não se sente preparada para lidar com a pandemia
- Má condução da pandemia pelo Governo Federal, negacionismo científico e medo de expor o vírus à família preocupam esses profissionais
Após um ano de pandemia, a exaustão emocional e a falta de preparo para enfrentar a covid-19 são a realidade de profissionais da saúde que estão na linha de frente de combate ao novo coronavírus. Em relatório divulgado nesta semana, pesquisadores da Fundação Getulio Vargas mostram que 80% dos trabalhadores entrevistados sentem impactos negativos na saúde mental causados pela pandemia, sendo que apenas 19% buscaram ajuda para lidar com o problema.
Conduzido pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB) da Escola de istração de Empresas de São Paulo (EAESP) da FGV, o estudo aplicou uma survey online entre os dias 1º e 20 de março de 2021 a 1.829 profissionais de saúde do setor público, como médicos, profissionais de enfermagem, agentes comunitários e outros.
"Enfrentar uma pandemia colocando em risco a própria vida é algo que afeta diretamente a saúde mental dos profissionais", afirma Michelle Fernandez, professora da UnB e co-autora do estudo. A cientista política diz que há poucas perspectivas de melhora em curto prazo. "Eles estão no limite. Precisam de aconselhamento terapêutico, e das chefias, atuar em um ambiente de trabalho saudável, acolhedor e seguro, ou seja precisam da ajuda dos governos e das organizações, mas não é o que temos visto", recomenda.
A pesquisa é a quarta de uma rodada de pesquisas feitas ao longo de 2020 com o intuito de avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 em profissionais de saúde atuando na linha de frente. A análise da série mostra que pouca coisa mudou na realidade destes trabalhadores: em abril de 2020, quando a primeira rodada da survey foi aplicada, 65% dos profissionais afirmaram não se sentir preparados para enfrentar a covid-19, porcentagem que sobe para 70% em março de 2021.
Diversos motivos para esse despreparo foram relatados pelos profissionais, como a situação política e a má condução da pandemia pelo Governo Federal, o negacionismo científico, o medo de expor o vírus à família, além da falta de treinamento, equipamentos de proteção individual, vacinas e testagens. Até agora, 86,8% dos participantes do estudo relataram terem recebido a primeira dose da vacina.
Para Gabriela Lotta, co-autora do estudo, os profissionais de saúde precisam de condições de trabalho adequadas e de apoio e orientação para continuarem o seu trabalho: "É central que os governos vejam a situação dos profissionais para construírem políticas que dêem sustentação a este trabalho primordial. Temos que cuidar de quem cuida de nós, e isso só pode ser feito observando como os profissionais de saúde estão vivendo e enfrentando a pandemia", explica.
Vacinação e reabertura de comércio
A reabertura de locais que concentram aglomerações tem sido o foco de muitos debates durante a pandemia. Por isso, os pesquisadores consultaram o que os profissionais de saúde pensam sobre o assunto: 32% são contrários, 45% são favoráveis à reabertura apenas de serviços essenciais e com o uso de máscara, enquanto 22% defendem a reabertura total dos serviços e apenas 0,6% considera prudente reabrir estabelecimentos sem o uso obrigatório de máscaras.
No geral, as respostas dos profissionais de saúde sobre temas científicos tendem a se alinhar às recomendações de autoridades nacionais e internacionais da área. Para entender essa percepção, a pesquisa questionou os entrevistados sobre uma situação hipotética em que um paciente com o diagnóstico confirmado de covid-19 solicita um tratamento que não é consensual na ciência, mas que é muito falado na internet. Diante dessa simulação, 34% defenderam o direito de escolha do paciente, enquanto 65% acreditam que a palavra final deveria ser do próprio profissional de saúde.
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